O ritmo das pesquisas propostas para o ano de 2012 continuam exigindo cada vez mais dos atuantes disciplina e empenho para superar cada novo desafio apresentado na sala de trabalho. A última semana foi intensa, em muitos sentidos, e o tempo, infelizmente, curto para compartilhar cada dia de trabalho; e por isso apresento uma sintese dos últimos três dias de trabalho ( 19-21 e 24.03) em um só diário.
A ênfase dos treinamentos tem sido colocada cada vez mais na autonomia que cada atuante precisa ter com as formas codificadas que o GITA alicerça suas pesquisas. Por autonomia no treinamento entendo, não somente a memorização das sequencias de movimentos e exercícios praticados a cada sessão de trabalho, mas, fundamentalmente, como essas formas codificadas vão sendo in-corporadas e processadas psicofísicamente, respeitando a individualidade de cada atuante. Em outras palavras, trata-se de perceber e apropriar-se com rigor e precisaão de cada um dos princípios trabalhados no treino, ou seja, segundo Richard Nichols: O Desenvolvimento do foco (concentração); O "estar no momento", ou seja, o "aqui e agora"; A disposição de imagens; Foco de energia e economia nas ações e gestos; Executar cada ação a seu tempo; Expandir os horizontes da auto-imagem; Desenvolvimento de um corpo flexível, controlado e equilibrado; Unificação da mente e do corpo; Apreciação e desenvolvimento da disciplina.
Portanto, não se trata simplemente de fazer cada atuante decorar o treinamento, mas oferecer a cada um oportunidade para trabalhar suas dificuldades pessoais. Para tanto, tenho exigido que cada atuante - pelo menos uma vez nos últimos treinos - tente executar a sequencia do T'ai Chi e o Vannakkan sem ter a referencia de minha pessoa conduzindo a prática. Sem dúvida que as dificuldades são inúmeras, pelos pouco tempo de treinamento dos novos atuantes. No entanto, mesmo os mais antigos Wallace Horste e Rose Tunas - esta última acompanha o GITA a mais de três anos - enfrentaram muitas dificuldades. Apesar de pairar um certo tom de irritação na exigência que venho empreendendo, percebo também muito empenho, dedicação e avidez na tentativa de superar seus próprios limites, e isso é excitante e animador.
Seguimos em frente sem hesitação e sabedores da preciosidade oriunda de um rotina de treinamentos intensos. Encerro com uma passagem do mestre Eugênio Barba:
"No fundo, o exercício é como uma porta do esqui alpino, através da qual o ator faz passar sua atividade física, disciplnando-a. Em nosso teatro, o treinamento sempre consistiu num choque entre disciplina - a forma fixa do exercício - e a superação dessa forma fixa, do estereótipo que o exercício é. A motivação para esta superação é individual, diferente para cada ator. É essa motivação pessoal que decide sobre o sentido do treinamento. (...)
O valor essencial do treinamento consiste nisto: autodisciplina cotidiana, personalização do trabalho, demonstração de que se pode mudar, estímulo e efeito sobre os companheiros e sobre o ambiente " (Teatro Solidão, Ofício, Revolta - 2010, p. 77).