Do
Woyzeck ao Zé: a impertinência dos descontentes
O vazio, o mundo sem
sentido, o absurdo, a solidão. Não. Não estamos falando de nossa atual
conjuntura, mas dos elementos centrais que movem a obra de George Büchner, em particular
Woyzeck, datada de 1836 e considerada sua obra prima.
Nela Büchner nos presenteia com a consciência impertinente de Woyzeck, o títere
que mesmo sendo manipulado por forças anônimas, grita sua solidão e o sem
sentido de sua existência. O grito de Woyzeck ecoou em nossa sala de trabalho
pela adaptação em versos de Fernando Marques. As rimas metrificadas de Fernando
nos colocaram diante do títere por excelência da contemporaneidade, o Zé. Dito assim, direto, objetivo e sem
nenhum alento de nome ou sobrenome: não é José, tão pouco pode ser confundido
com o Zé-Ninguém; simplesmente Zé. Destituído de tudo e sem capacidade para
reagir diante do mundo que insiste em permanecer vazio. Resta-lhe somente o
grito, a denúncia de que viver assim é um fardo, pois estamos imersos num
paradoxo: a impossibilidade do contato humano na era da comunicação sem
fronteiras das redes digitais. Assim, o Zé
de Fernando nos desafiou a reconstituirmos os farrapos do seu drama sem
recorrer a nenhuma mediação – nada de cenário, figurinos elaborados, trilha sonora,
elementos de cena, etc. Somente o encontro humano entre os Zé (s): Zé-atuante e
Zé-espectador. Todos assim “sem eira nem beira” enredados neste mundo escroto
que nos cerca.
Elenco:
Brida Carvalho e Silvia Luz
Iluminação:
Sônia Lopes e Márcia Tarcíso
Direção:
Edson Fernando
Apoio:
Denis Bezerra
Coordenação da pesquisa matricial: Cesário Augusto
Pimentel
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